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02/04/24

Amarante Literatura - Neste inicio e chuvoso de abril e do inicio da primavera, esperemos pelos raios solares pungentes do mês de maio...




"CANÇÃO DE MAIO

Os rios são de luz,
E de oiro são as fontes.
Ê de oiro o mar azul,
Que banha os horizontes.

O arbusto que rebenta,
É um Lázaro a quebrar
A tampa do sepulcro,
Ouvindo o sol chamar!

O aroma é tão intenso,
Em Maio, nos outeiros.
Que tolda os claros céus
De vagos nevoeiros.

A luz do sol caindo.
Alegre, sobre a aldeia,
As pedrinhas do chão
E as águas incendeia!

Doira a face espelhada
E lívida dos mármores;
E chuveiros de tinta
Esparge sobre as árvores.

Crescendo, a cor alaga
O vale, o campo, a serra.
E já mal se distingue
O céu azul da terra."

Teixeira de Pascoaes | Vida Etérea


29/03/24

Amarante Literatura - A 12 de abril de 1923, Pascoaes e Raul Brandão são eleitos para a Academia de Ciências de Lisboa.




«A 12 de Abril de 1923, Pascoaes e Raul Brandão são eleitos para a Academia de Ciências de Lisboa. Júlio Dantas, David Lopes e Henrique Lopes de Mendonça (relator) assinam o parecer onde se afirma que «Pascoaes é da raça excelsa de poetas que têm como remotos antepassados Hesíodo e Lucrécio, e cuja suprema representação, nas auroras do romantismo, é porventura Shelley.»

Em Maio seguinte, Pascoaes foi a Madrid fazer uma conferência na Residência dos Estudantes.» in fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos. 


#amarante    #gatão    #casadepascoaes    #teixeiradepascoaes    #raulbrandão

#academiadeciênciasdeliboa    #eleitos    #júliodantas

28/03/24

Amarante Literatura - Teixeira de Pascoaes na sua obra "A Saudade e o Saudosismo", a dissertar sobre a nossa consciência, como a ciência connosco.



«A Lucidez da Velhice

A mocidade é noivado, como a velhice é viuvez. Um jovem, por mais marido que seja, é noivo ainda; e um velho, embora casado, é já viúvo... um solitário guardando as cinzas duma flor. Mas dessas cinzas o seu espírito se alimenta. Alimenta-se de pureza, pois a cinza é o que resta dum incêndio, essa purificação suprema. Por isso, a consciência é um atributo da velhice, e também a ciência. A consciência é a ciência connosco, a ciência identificada ao nosso ser, que entra no pleno conhecimento de si mesmo, e do seu poder representativo do Universo. A velhice é uma noite maravilhosa em que brilham as nossas ideias, uma atmosfera límpida ou varrida pelo zéfiro da morte, a única Deusa verdadeira.

Teixeira de Pascoaes, in 'A Saudade e o Saudosismo'


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#lucidez     #literatura

20/03/24

Amarante Literatura - "A Sociedade é a Imagem do Homem", texto do Pensador de Amarante e do Marão, Teixeira de Pascoaes.




«A Sociedade é a Imagem do Homem


O aperfeiçoamento da Humanidade depende do aperfeiçoamento de cada um dos indivíduos que a formam. 

Enquanto as partes não forem boas, o todo não pode ser bom. 

Os homens, na sua maioria, são ainda maus e é, por isso, que a sociedade enferma de tantos males. 

Não foi a sociedade que fez os homens; foram os homens que fizeram a sociedade.

Quando os homens se tornarem bons, a sociedade tornar-se-á boa, sejam quais forem as bases políticas e económicas em que ela assente. 

Dizia um bispo francês que preferia um bom muçulmano a um mau cristão. Assim deve ser. 

As instituições aparecem com as virtudes ou com os defeitos dos homens que as representam.» 


(Citação de Teixeira de Pascoaes)


#amarante    #gatão    #literatura    #teixeiradepascoaes    #pensamentos    

#citações    #sociedade    #portugal

16/03/24

Amarante Literatura - O Poeta e Pensador Amarantino, Teixeira de Pascoaes, falava de outros Poetas com admiração.

(Teixeira de Pascoaes, Raul Brandão, António Nobre e a Fonte dos Golfinhos)


«Em 1921, publicou o «Bailado» e os «Cantos Indecisos» com pensamentos de grande magia e elevação:


«O sol não vê a luz,

E não sabe que tem perfume a violeta.

E assim como o Senhor não conheceu a cruz,

Ignorante de versos é o Poeta.»


A 3 de janeiro de 1922 morreu meu avô. Foi um golpe terrível na família. A casa parecia vazia. O silêncio era impressionante. Mas o tempo passa e Pascoaes publica a «Conferência» e «A caridade».

Pascoaes falava de outros poetas com admiração. De António Nobre, por exemplo. Dizia: «É a nossa maior poetisa».

Raul Brandão e a mulher, Maria Angelina, vinham passar grandes temporadas à Casa de Pascoaes. Era em Setembro. Raul fazia mesmo uma cura de águas na Fonte dos Golfinhos. Tinha albumina que desaparecia com este tratamento.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.

#amarante    #literatura    #poesia    #teixeiradepascoaes    #raulbrandão

#antónionobre     #casadepascoaes    #fontedosgolfinhos

15/03/24

Amarante Literatura - O poeta de Gatão, Amarante, a lavrar a terra etérea, com a sua pena luminosa, sobre a verdade da poesia...



«A Essência das Coisas

Nunca me conformei com um conceito puramente científico da Existência, ou aritmético-geométrico, quantitativo-extensivo. A existência não cabe numa balança ou entre os ponteiros dum compasso. Pesar e medir é muito pouco; e esse pouco é ainda uma ilusão. O pesado é feito de imponderáveis, e a extensão de pontos inextensos, como a vida é feita de mortes.

A realidade não está nas aparências transitórias, reflexos palpitantes, simulacros luminosos, um aflorar de quimeras materiais. Nem é sólida, nem líquida, nem gasosa, nem electromagnética, palavras com o mesmo significado nulo. Foge a todos os cálculos e a todos os olhos de vidro, por mais longe que eles vejam, ou se trate dum núcleo atómico perdido no infinitamente pequeno, ou da nebulosa Andrómeda, a seiscentos mil anos de luz da minha aldeia!

A essência das coisas, essa verdade oculta na mentira, é de natureza poética e não científica. Aparece ao luar da inspiração e não à claridade fria da razão. Esta apenas descobre um simples jogo de forças repetido ou modificado lentamente, gestos insubstanciais, formas ocas, a casca de um fruto proibido.

Mas o miolo é do poeta. Só ele saboreia a vida até ao mais íntimo do seu gosto amargoso, e se embrenha nela até ao mais profundo das suas sensações e sentimentos. É o ser interior a tudo. Para ele, a realidade não é um conceito abstracto, ideia pura, imagem linear; é uma concepção essencial, imagem hipostasiada, possuída em alma e corpo, nupcialmente, dramaticamente, à São Paulo ou Shakespeare.» 

(Pensamento de Teixeira de Pascoaes, o pensador metafísico de Gatão, Amarante)


#amarante    #gatão    #literatura    #teixeiradepascoaes    #poesia    #realidade       

21/02/24

Arte Literatura - Como o Poeta de Pascoaes, essa Alma abençoada pelos terras de Amarante, as águas do Rio Tâmega, e pelos ventos do Marão, refletia sobre a sociedade do seu tempo... ou intemporal!



«A Sociedade é a Imagem do Homem

O aperfeiçoamento da Humanidade depende do aperfeiçoamento de cada um dos indivíduos que a formam. Enquanto as partes não forem boas, o todo não pode ser bom. Os homens, na sua maioria, são ainda maus e é, por isso, que a sociedade enferma de tantos males. Não foi a sociedade que fez os homens; foram os homens que fizeram a sociedade.

Quando os homens se tornarem bons, a sociedade tornar-se-á boa, sejam quais forem as bases políticas e económicas em que ela assente. Dizia um bispo francês que preferia um bom muçulmano a um mau cristão. Assim deve ser. As instituições aparecem com as virtudes ou com os defeitos dos homens que as representam.»

in Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"


#arte    #literatura    #teixeiradepascoaes    #saudade    #saudosismo    #filosofia    

#sociedade    #humanidade

17/01/24

Amarante Literatura - Quando da reunião do Curso, volvidos 50 anos em Coimbra, 1951, Pascoaes não pôde comparecer, sendo que, Faria e Maia, vindo expressamente dos Açores, foi visitá-lo e almoçaram na pousada do Marão.

(Créditos imagem: Instituto Cultural de Ponta Delgada)


«Terminado o curso em Coimbra, em 1901, foi passar umas férias à Ilha de S. Miguel, nos Açores, em casa do seu condiscípulo e grande amigo Faria e Maia, e veio encantado com a beleza  da paisagem. 

Quando da reunião do Curso, volvidos 50 anos em Coimbra, 1951, Pascoaes não pôde comparecer. Faria e Maia, vindo expressamente dos Açores, foi visitá-lo. Almoçaram na pousada do Marão, onde foi festa a fotografia.» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos



31/08/23

Amarante Literatura - Sant'Ana Dionísio também vinha muitas vezes visitar Pascoaes no seu retiro de S. João de Gatão e tinha por ele uma grande estima e profunda admiração, tendo escrito sobre ele um livro com muito interesse - «O Poeta - Essa Ave Metafísica».



«Sant'Ana Dionísio também vinha muitas vezes visitar Pascoaes no seu retiro de s. João de Gatão. Tinha por ele uma grande estima e profunda admiração. Escreveu sobre ele um livro com muito interesse - «O Poeta - Essa Ave Metafísica». Na capa, Pascoaes desenhado pelo autor. É um estudo sério com uma visão intuitiva da alma e do génio de Pascoaes.

Era um homem pequenino e magro, com um olhar muito vivo que as grossas lentes encobriam. Era um grande conversador e um espírito penetrante.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos

"O Poeta, essa Ave Metafísica" ou Teixeira de Pascoaes, vida, obra e a serra do Marão, por Sant'Anna Dionísio:

https://pedroteixeiradamota.blogspot.com/2020/04/teixeira-de-pascoaes-o-poeta-essa-ave.html

Encontro com… Sant´Anna Dionísio: https://arquivos.rtp.pt/conteudos/encontro-com-santanna-dionisio/

Docentes e Estudantes da Primeira Faculdade de Letras da Universidade do Porto:

https://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=18363


#amarante    #gatão    #arte    #literatura    #sant'anadionísio    #teixeiradepascoaes

#casadepascoaes    #opoetaessaavemetafísica

30/08/23

Amarante Literatura - No mesmo ano (1915), Teixeira de Pascoaes publicou ainda na separata do n.º 48 da revista «A Águia» (2.ª série), «Miss Cavell», poema dedicado à morte de uma enfermeira inglesa, em frança, durante a guerra de 1914.




«No mesmo ano (1915), publicou ainda na separata do n.º 48 da revista «A Águia» (2.ª série), «Miss Cavell», poema dedicado à morte de uma enfermeira inglesa, em frança, durante a guerra de 1914.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos

«De carácter circunstancial são o poema Miss Cavell (1915), publicado em separata (cujo produto de venda se destinava à Cruz Vermelha Inglesa), em que se canta a heroicidade de uma enfermeira inglesa, Edith Cavell, que, pouco antes de morrer fuzilada pelos alemães, perdoou, em nome da caridade cristã, aos seus inimigos» in "Estética da Saudade em Teixeira de Pascoaes" Agrupamento de Escolas de Aveiro (Biblioteca)

O Poema escrito na Revista Águia, pode ser lido aqui:

https://grandeguerra.bnportugal.gov.pt/pdf/1915/dez/1915-12-01_Aguia.pdf

No centenário da execução de Mr. Cavell:

https://conversamos.wordpress.com/tag/edith-clavell/

https://www.cafehistoria.com.br/edith-cavell-primeira-guerra-mundial/


#amarante    #gatão    #teixeiradepascoaes    #literatura    #poesia    

#misscavell    #enfermeira    #assasinato    #1ªguerramundial

24/08/23

Amarante Literatura - Em 1935, a pedido de Luís Reis Santos, Pascoaes publicou «Painel», um poema que descreve Portugal do Minho ao Algarve.



«Em 1935, a pedido de Luís Reis Santos, Pascoaes publicou «Painel», um poema que descreve  Portugal do Minho ao Algarve. O poeta tem uma imagem muito inspirada para se referir à Torre dos Clérigos. Chama-lhe «Alto cipreste empedernido.» in Fotobiografia na "Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.


«Painel

Num cerro do Marão

Estranha luz meus olhos deslumbrou;

E em corpo de lembrança divaguei

Além dos horizontes,

E toda a pátria terra percorri,

E o mar e o céu azul,

Onde os anjos da velha Lusitânia

Voam como através da nossa fantasia.


Vejo campos elíseos de verdura,

Serras azuis de infinda suavidade;

E a serra do Gerês,

Com os seus altos baluartes esculpidos

A pancadas de chuva e de granizo

E a golpes de relâmpagos.

Vejo rios dormentes,

Misteriosos vales, que se alargam

Em cultivadas várzeas;

Ovelhinhas pastando em místicos outeiros

E pastores tangendo a flauta do deus Pã;

Meda de palha nos eirados,

Velhas choupanas que fumegam;

Sobre o quinteiro, à porta, uma ramada verde,

E, mais em baixo, num recanto escuro,

Uma bica de pedra a deitar água fresca

Num cântaro de barro.


E em lugares sinistros,

Que o medo despovoa,

Arruinados solares, onde habitam

Fantasmas e corujas, quando a Lua

Derrama, na solidão extática das noites,

Não sei que frio alvor e que tristeza de alma.


Praias de espuma e névoa, incêndios de oiro, à tarde,

Entre pinhais, fugindo, desgrenhados,

Na direcção do vento...


E cidades, vivendo protegidas

Por santos tutelares:

Viana e Santa Luzia e Braga e o Bom Jesus,

E Guimarães aos pés dum Pio IX em pedra,

Católica e Romana.


E o Porto de Herculano,

Como Lisboa é de Garrett.

Lisboa em gesso branco, o Porto em pedra escura,

Sobre os abruptos alcantis do Douro;

Esse rio que vem de longe, solitário,

Cobrir-se de asas brancas de navios

E de negros canudos de vapores.

Encostados aos cais, depõem a férrea carga.

Outros, vão demandando a barra e o farolim,

Que dá uma luz - tão triste! - em noites invernosas.


Distante, no poente, esfuma-se uma nódoa

Em verdes tons fluídos que palpitam

Numa névoa indecisa, vaga imagem

Da tristeza do mar pintada em nossos olhos.


Teixeira de Pascoaes


#arte    #poesia    #teixeiradepascoaes    #painel    #torredosclérigos

23/08/23

Amarante Literatura - Em 1934, o Escritor amarantino Teixeira de Pascoaes, lança a sua grande revelação - «São Paulo», uma obra literária impactante e sem datação.

 
(Albert Thelen e Marsman, tradutores Alemães de Teixeira de Pascoaes, na Casa de Pascoaes)



«Agora vai surgir a era das grandes biografias. Pascoaes, nesse mesmo ano, lança a grande revelação - «São Paulo».

Faz o retrato de uma alma enamorada de Deus.

Logo no prefácio, Pascoaes diz que São Paulo «foi o transviado que se orientou, orientando os outros, o faminto que transformou em pão a sua fome».

Descreve a lapidação de Santo Estevão e o remorso que se apoderou de S. Paulo quando se dirigia para Damasco e uma névoa o surpreendeu e se rasga num enorme clarão que o derrubou:

«O facho acende-se, em pleno azul do meio-dia! É um clarão maravilhoso, precipitado das Alturas, e um grito incandescente: Saulo! Saulo! Porque me persegues? O relâmpago instantâneo bate-lhe na fronte e lança-o por terra, deslumbrado: Quem és Senhor? E a voz celeste lhe responde: Sou Jesus, a quem persegues. Duro é para ti recalcitrar contra o aguilhão. Consomou-se o milagre, o mais surpreendente dos milagres! A realidade ficou vencida! E eis a alegria da nossa alma!

«Este milagre deu à pessoa de Paulo um resplendor extraordinário. Quem concebeu idêntica visão? Que outra fonte recebeu, em cheio, uma torrente de luz, a despenhar-se do céu aberto? Que outros ouvidos foram abalados pela súplica de um Deus aflito? Que outro homem a quem Deus pedisse  misericórdia?

«Esta cena da estrada de Damasco demonstra a inspiração divina do apóstolo, a força sobrenatural que o animava.

«Os seus companheiro levam-no e conduzem-no pela mão. Não vê nada, que o deslumbramento é cegueira. A luz luz é... meia luz. A vida é entre zero e cem, um acaso da temperatura...»

Em Portugal, com raras excepções, o livro não foi bem recebido nem pela crítica, nem pelos meios eclesiásticos.. Contudo, além fronteiras constituiu um verdadeiro acontecimento.

Em Espanha, Miguel de Unamuno, no jornal «Áhora», fala da obra de Pascoaes com o mais vivo entusiasmo. Para ele trata-se de um livro incomparável, que lança uma nova luz sobre a figura do Apóstolo.

Em breve, Ramon Martinez Lopes, jovem professor no Instituto Espanhol de Lisboa, oferece-se para fazer a tradução.

Ele e a mulher, ainda em lua-de-mel, iam à York House visitar Pascoaes. Ela, cheia de ternura, tratava o marido por Mochinho.

Este breve, Ramon Martinez Lopes, jovem professor no Instituto Espanhol de Lisboa, oferece-se para fazer a tradução.

Esta tradução, que não é famosa, foi parar às mãos de um refugiado alemão em Espanha - Albert Vigoleis Thelen que, entusiasmado, logo o quis traduzir para alemão.

E assim começou uma longa troca de correspondência entre ele e Pascoaes. Ficaram amigos.

Essa tradução alemã contagiou o poeta e advogado holandês Marsman que, por sua vez, traduziu para a sua língua o S. Paulo de Pascoaes.

E assim surgiram duas edições alemãs, quatro holandesas e uma húngara.

As críticas estrangeiras choveram em catadupa.

O poeta suiço Talhoff ergueu-o à maior altura e afirmou:

«Há muito que eu pressentia o espírito que se manifesta em Pascoaes, um espírito maravilhoso na sua intrépida visão! Pascoaes é um contraponto cósmico. nele se encontram as mais altas forças contra a escuridão demoníaco dos tempos. Pascoaes é um mensageiro apocalíptico, um organista da linguagem, que dele sai qual bíblica torrente de eternidade! Ele é de tal ordem de futuro, de tal maneira que antecede todo o pensar, saber e dizer de amanhã, que não é de espantar que não seja ainda compreendido pelo homem vulgar do Ocidente.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes", de Maria José Teixeira de Vasconcelos


https://ensina.rtp.pt/artigo/sao-paulo-de-teixeira-de-pascoaes/

https://www.snpcultura.org/teixeira_pascoaes_biblioteca_nacional_assinala_publicacao_sao_paulo.html


#amarante    #gatão    #teixeiradepascoaes    #marsman

#albertthelen    #sãopaulo    #tradutores     #alemães

02/08/23

Amarante Literatura - Numas outras férias, Ângelo César convidou Pascoaes para um passeio lindíssimo: Vila Real, Chaves, a estrada de Braga, o Gerês, Lanhoso, Fafe e o regresso a Amarante.

(António Duarte e Teixeira de Pascoaes)

(Ângelo César e Teixeira de Pascoaes)


(Mão de Teixeira de Pascoaes, concebida por António Duarte, por modelagem)


«Numas férias  passadas em Pascoaes, António Duarte quis aprender a nadar. O Poeta era o instrutor. Lá iam, todas as tardes, até ao rio. Acompanhava-os um criado com uma corda para atar em torno da cintura do escultor.

Ao cabo de oito dias, Pascoaes estava desanimado. Dizia: «Ele faz uma cara de aflição como se tivesse o oceano Atlântico à sua frente! E tem apenas o Tâmega...»

Numas outras férias, Ângelo César convidou Pascoaes para um passeio lindíssimo: Vila Real, Chaves, a estrada de Braga, o Gerês, Lanhoso, Fafe e o regresso a Amarante. António Duarte foi convidado também. No «Duplo Passeio», Pascoaes descreve o entusiasmo do jovem escultor: «O entusiasmo ilumina-lhe, de repente a fisionomia juvenil em que transparece não sei que loucura primitiva, uma loucura sadia, a morder os frutos acres e vermelhos, andava, ou melhor, voava, em todos os sentidos, à procura de nada, dum chapéu! O que ele desejava era dançar, exprimir o alvoroço alegre que não cabia dentro dele, e explodia em movimentos físicos, pois a nossa alma corre com as nossas pernas, e discursa, contra a matéria, servindo-se duma laringe.

«A infância revive facilmente nos que são ainda perto dela. E as crianças, por uma pequena coisa, fazem a guerra de Tróia, a mais célebre da História, graças à Ilíada.

«Acalmei-o, oferecendo-lhe uma boina galega, possuída por mim religiosamente, em homenagem à Galiza que Deus haja, pobre defunta num túmulo onde o vento já não murmura os versos de Rosália.

«O escultor, um rapaz alto, magro e branco, põe a boina na cabeça, o que lhe dava um ar agarotado e bolchevista. Se vestisse também um fato-macaco, teríamos um perfeito exemplar do homem novo, segundo o Evangelho de Marx.

«Mas a ideia de um passeio montanhês ardia-lhe nos miolos. Onde um artista se sinta, como ele, a montanha? Vi-o rolar-se pelos outeiros abaixo, esfarrapar o fato de urze, beber mergulhando a cara nos regatos que emanam dos penedos. A alma das alturas trespassa-o, mete-se-lhe no corpo, estonteia-se, embebeda-o! Trata-se duma embriaguez panteísta, a trocar as pernas em acordo com a borracheira mística dos santos.

«Foi o primeiro a entrar no automóvel, ansioso de partir ou impelido pelo horror ao mesmo sítio. Estar aqui, neste lugar tão belo, eternamente... só Frei Agostinho da Arrábida. Não conheço outra ave assim pousada numa árvore.

«O meu confrade toma o volante; o auto abala, com aquele espalhafato ruidoso e veloz, que provocava nos animais uma impressão monstruosa. Habituaram-se, por fim. O que se repete, banaliza-se» in Fotobiografia "Na sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos.


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05/07/23

Amarante Literatura - No inicio do século XX, Teixeira de Pascoaes, encontra-se em grande atividade literária, o advogado recém formado monta banca com Carlos Babo em Amarante.



«Pascoaes não pára de escrever. Em 1901, publicou «À Ventura» - um poemeto onde se afirma o seu humanismo.

Escrevia: «Quem tem um coração é o Deus de um firmamento.»

Nesse mesmo ano, o Poeta veio advogar para Amarante. Abriu banca com Carlos Babo. Depressa arranjou uma boa clientela.

O povo procurava aquele jovem defensor dos caseiros rurais.

Em 1903, publicou um novo livro de versos: «Jesus e Pan», uma obra com preocupações filosóficas em que o Paganismo e o Cristianismo se confundem num mesmo credo... O Poeta é um visionário que, contudo, não se afasta da realidade. Vivia num íntimo deslumbramento e exaltação, «tocando o fundo das almas», «tocando o sonho e o nada.» E afirmava: «Sou, em futuro, o tempo que passou. Em mim, o antigo tempo, é nova idade.»

Foi neste mesmo ano 1903 que um rude golpe o atingiu cobrindo de dor e amargura toda a família - o suicídio do irmão António, em Coimbra.

Chocadíssimo com esta terrível tragédia, Pascoaes publicou, em 1904, o livro de versos magoados e inconformistas - «Para a Luz».

É um grito de dor e de revolta contra a injustiça.» in Fotobiografia "Na Sombra de Pascoaes" de Maria José Teixeira de Vasconcelos


#amarante    #gatão    #literatura    #poesia

#texeiradepascoaes    #carlosbabo   #direito    #advocacia

26/06/23

Amarante Literatura - A Arte em geral vista pela fina pena de Agustina Bessa Luís, de Vila meã, Amarante!


«A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso». É algo mais. É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.» 

Agustina Bessa Luís


#amarante    #vilameã    #literatura    #agustinabessaluís

08/02/23

Amarante Literatura - O luar da terra de Pascoaes, quase que estamos a imaginá-lo numa qualquer janela virada para o Marão, na Casa de Pascoaes, em êxtase pela contemplação poética.




"CANÇÃO LUARENTA

Vem do Marão, alta serra,

O luar da minha terra.


Ora vem a lua nova

Que é um perfil

De donzela falecida...

Nas claras noites de Abril,

Em névoa de alma surgida,

Anda a errar.

E a suspirar,

Em volta da sua cova...


Ora, vem a lua cheia...

Rosto enorme

E luminoso,

N´um sorriso misterioso,

Por sobre a aldeia

Que dorme...


Vem do Marão, alta serra,

O luar da minha terra."


Teixeira de Pascoaes


#arte    #poesia    #teixeiradepascoaes    #cançãoluarenta


02/01/23

Arte Poesia - "Tristêza", um magnífico Poema de autoria do Poeta amarantino Teixeira de Pascoaes, incluído na sua obra "Elegias".



"Tristêza


O sol do outomno, as folhas a cair,

A minha voz baixinho soluçando,

Os meus olhos, em lagrimas, beijando

A terra, e o meu espirito a sorrir...


Eis como a minha vida vae passando

Em frente ao seu Phantasma... E fico a ouvir

Silencios da minh'alma e o resurgir

De mortos que me fôram sepultando...


E fico mudo, extatico, parado

E quasi sem sentidos, mergulhando

Na minha viva e funda intimidade...


Só a longinqua estrela em mim actua...

Sou rocha harmoniosa á luz da lua,

Petreficada esphinge de saudade..."


Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'


"Tristeza" | Poema de Teixeira de Pascoaes com narração de Mundo Dos Poemas


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